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Entrevista publicada no FLAL em 2016
Entrevista publicada no FLAL em 2016

 

Luiz Amato: Qual a sua visão sobre a relação dos escritores nacionais, com as editoras tradicionais?

As editoras tradicionais estão interessadas apenas nos escritores admirados pela crítica literária. Escritores consagrados e que podem resultar em venda certa... principalmente os clássicos nacionais. Os novos e desconhecidos, que se autodenominam escritores, não têm oportunidade. A não ser que se disponham a pagar integralmente a edição de seu livro. Eu ainda vou ver e divulgar um trabalho voltado para a publicação de novos autores, sem custo inicial e com parceria na divulgação do título e do autor. De brasileiro para brasileiro.

 

Daniela Garcia: Acredita que faltam métodos de divulgação literária no Brasil? Por quê? Acha que agentes literários poderiam ajudar?

Faltam leitores. As escolas poderiam ser os melhores agentes literários. Poderiam estimular a leitura no país. E não precisa de recursos para isso... Os professores seriam os agentes. Já se encontram nas escolas espalhadas pelo país e, estão em contato com milhares de leitores diariamente. O Ministério da Educação e Cultura deveria ter ações pesadas para estimular a leitura, o que vemos é a desqualificação das bibliotecas, dentro das escolas.

 

Matheus Gabriel Castro Bezerra: Vocês têm dicas para as pessoas que desejam ser escritores?

Leia muito. Leia tudo... até bula de remédio... e faça palavras cruzadas, que amplia o vocabulário e lhe ensina a escrever corretamente. Não acredito que alguém possa ser “formado” escritor. Se você deseja escrever, vai escrever e será um escritor. Criatividade... imaginação... Vontade... Sonhos escritos... Não gosto de regras... acho que ela é inimiga da criatividade. Deixe o texto sair naturalmente... Em dois anos nas redes sociais eu encontrei de tudo um pouco. Ainda fico extasiada diante de um texto inteligente, uma obra prima de criatividade e imaginação e repleto de erros na língua portuguesa, como se a pessoa que o escreveu não tenha sido alfabetizada. Não importa a língua portuguesa, para isso temos os revisores. O mais importante é a qualidade da história, do texto que irá encantar e prender os leitores.

 

Michelle Paranhos: Vocês se preocupam com a mensagem transmitida aos seus leitores por sua história? Ou você não pensa nisso ao publicar?

Sempre. É preciso responsabilidade com a família de quem escreve e com o leitor e a família desse leitor. Quando decidi publicar meu livro, um romance erótico, a primeira preocupação foi o meu filho. Estudante universitário e muito conhecido no meio jornalístico. Eu não queria criar constrangimentos para nós, então optei por uma silhueta negra no perfil das redes sociais. As pessoas associam “tudo” à imagem. Um nome nada representa se for acompanhado de uma fotografia. Voltando ao livro... bem à época de um livro sadomasoquista, que me deixou indignada... eu me perguntava se não existiam relações sexuais normais? Quase sempre uma garota ingênua e um homem rico e poderoso. Não temos mais garotas ingênuas... E nem todos os homens são ricos e poderosos... Eu queria algo normal, maduro e divertido. E saiu como um guia para usar a criatividade. Não precisa mudar o parceiro, depois de anos de casamento, basta usar a criatividade.

 

Ironi Jaeger: Na opinião de vocês, os escritores deveriam ser mais unidos, apoiando um ao outro e não os tratando como concorrentes?

Com certeza! Eu chamo de “egos inflados”. Alguns desejam ser celebridades e não escritores. A literatura é só um caminho, um meio de alcançar fama. Só que a realidade é muito diferente. Tenho visto pelo Facebook... “embaixador tal”... “comendador fulano de tal”... e outros adjetivos grotescos. De que adianta? Não vale nada. Deveríamos sim, criar uma cooperativa de escritores, sem pompa e circunstância, para juntos, poder combater a ausência de leitores e obter meios para editar nossas obras.

 

Claudia Mina: Você acha que um autor precisa de uma editora para a publicação de um livro? Qual a sua visão sobre a publicação independente?

Há dois anos, quando não sabia nada do mercado editorial, eu achava necessária uma editora para a publicação. Aí eu descobri o Clube de Autores, que foi o caminho encontrado para a publicação do meu livro. Ficou lá, na vitrine da loja virtual por quase um ano. Hoje, com a Amazon e outras plataformas digitais é relativo. Depende do autor, do gênero, do texto, da divulgação. Cada caso, ou cada livro e/ou autor é único, diferente. E pelas estatísticas de vendas em 2015, as livrarias virtuais bateram as vendas de livrarias físicas. E o mais incrível é que foram vendidos muito mais títulos clássicos de autores nacionais, mesmo os que já se encontram em domínio público.

 

Claudia Mina: Você acha que um livro pode ser publicado exclusivamente em formato digital ou sempre é bom ter uma versão física?

Gosto do livro físico. Ter nas mãos... poder tocar e acariciar... sentir o cheiro... O livro digital é prático e muito mais barato, sem contar que não absorve poeira, etc. Mas ainda é o livro físico que domina as vendas e o prazer em ter um livro em mãos... não tem preço.

 

Claudia Mina: Que tendências você vê para o futuro do mercado literário nacional?

Apesar das previsões pessimistas, eu acredito na literatura, no mercado literário e não vejo o fim do livro físico. Nós vamos dominar o mercado da literatura fantástica... se é que já não estamos lá. A poesia não é bem aceita pelas editoras tradicionais, só pensam na poesia quando precisam de dinheiro. Organizam uma antologia ou coletânea e os escritores financiam a obra. A grande aliada da literatura e principalmente da poesia é a internet. Temos páginas, grupos, sites, blogs, saraus, concursos, festivais e o mais importante, temos leitores. Nossos escritos são lidos e apreciados. Não envolve valores... Mas e daí? Quem se importa... o escritor precisa ser lido e admirado... o resto é lucro.

 

Simei Luiza: Qual as dificuldades e facilidades encontradas do começo até a publicação! Tem alguns incentivos ?

Todas as dificuldades, nenhuma facilidade ou incentivo. O poder público simplesmente ignora a cultura. Ignoram-se os grandes mestres da literatura brasileira, imagine os pretendentes escritores? Cada autor se vira como pode. Alguns já publicaram por editoras e mesmo pagando, continuam usando o mesmo sistema. Outros, usam as plataformas de autopublicação. Os que usam as lojas virtuais como Amazon, que vende no mundo inteiro. Os próprios escritores organizam seus livros para publicar e evitar os altos custos. Existem, hoje, inúmeras plataformas de vendas na internet.

 

Paula Lessa: Como reage aos obstáculos que tem de enfrentar, para conseguir se enquadrar na literatura nacional, quando os outros escritores não colaboram com as suas dificuldades? a) Você vai em frente, galgando degrau por degrau? b) Entra em estado de desânimo e depois volta com toda garra? c) Desiste no primeiro desafio?

Eu não dependo de ninguém. A escada que estou lentamente subindo, eu criei... Em 2013, quando terminei o livro e pretendia publicar, saí feliz procurando uma editora... (risos)... é claro que encontrei muitas... só pagando. Uma delas, queria R$16 mil sem valor de distribuição e divulgação. E eu... sem saber como se portava o mercado literário, fiquei nove meses em busca de patrocínio. Aí, em outubro do mesmo ano, autopubliquei no Clube de Autores. Eu precisava mostrar os meus escritos... Na verdade eu não pretendia escrever mais, seria um livro apenas... entrei nas redes sociais e minha vida mudou... Estou aqui na minha escada... um degrau de vez em quando... encontro outros pelo caminho e alguns estou ajudando a subir, enquanto outros, também me ajudam...

 

Miguel Rodrigues: Quando você escreve, tem consciência que seus pensamentos terão consequências?

Sempre. Ainda mais publicando nas redes sociais. Algum tempo atrás, me diziam que não deveria mencionar as minhas preferências, em se tratando de assuntos polêmicos, como aborto, homossexualidade, etc. Eu, não sou um personagem dos meus textos... sou a criadora. E é muito importante a verdade. Só poderei defender uma ideia se acreditar nela... Não sei escrever por encomenda. Quando escrevo, eu mergulho inteira... eu vivo aquele personagem e a sua personalidade. Às vezes, depois que acaba, ainda fico três ou quatro dias totalmente envolvida.

 

Carlos Almir Ferreira: Para os poetas: O que a poesia representa na sua vida? E por que escolheu este gênero dentre tantos outros?

Poesia é o alívio da alma. Eu não curtia muito a poesia. Gostava apenas de Mario Quintana, gaúcho como eu e que tem uma poesia leve, que vai direto ao coração. Aí, eu conheci um poeta português que me apresentou a verdadeira poesia... Comecei a escrever para desabafar as minhas dores. Aquelas que estão/estavam profundamente encravadas dentro de mim. E depois de um tempo... desnudando a minha alma... tentando me ver no espelho, a minha verdadeira face. Eu encontrei tanta beleza... que quando eu saía de casa, parecia estar flutuando falando com a natureza exuberante... Porém, no momento, eu estou travada. Não tenho vontade de escrever poesia, não consigo... apenas simples frases ou pensamentos poéticos. Lendo uma entrevista com Ferreira Gullar, onde diz que está sem escrever a mais de cinco anos... Aí fiquei animada, se o grande poeta está travado... imagine eu que nada sou? Carlos Almir Ferreira, Poesia é a arte do poeta!

 

Luciana Do Rocio Mallon: Como você descobriu que tinha o dom de escrever?

Em 2012 eu entrei num programa do Ministério da Saúde, para parar de fumar.

Mais ou menos uns seis meses depois... eu sonhei com o livro. Acabei escrevendo, mentalmente, o livro inteiro. E quando fiquei frente a frente com o note, levei três dias para iniciar. Nomeei os personagens, pesquisei os cenários... e nada de conseguir iniciar. Depois foi fácil. Só decidi me dedicar exclusivamente à literatura em 2014. Estou irremediavelmente apaixonada... me sinto livre quando escrevo, me sinto eu mesma. Eu não conseguia dominar as palavras... isso antes de parar de fumar. O médico disse que meu cérebro oxigenou... Só sei que nunca funcionou tão bem...

 

Tatiana Da Cunha Domingues: Você se apega a sua história e aos personagens ao ponto de sentir uma certa tristeza ao ter que eliminar um ou mesmo quando encerra a obra, tem aquela sensação de estar órfão?

É o contrário... a história vai se agarrando em mim. E sou tomada de uma euforia, uma sensação de felicidade que não consigo explicar em palavras... Depois que termina... como um conto, que escrevi recentemente, ainda estou envolvida por ele e preciso ler todos os dias. Estou escrevendo um romance... um romance que já está escrito mentalmente, a medida que estou avançando... eu sinto que está me possuindo... então, devido a muitos outros compromissos da escrita... estou indo muito lentamente... tenho receio de mergulhar ali e não sair enquanto não acabar... Emoção é a palavra...

 

Marcio Muniz: Creio que é normal o escritor ter um estilo ou mesmo um gênero que prefere escrever. Gostaria de saber se os colegas apesar de assumirem um estilo, também se sentem desafiados a saírem desta zona de conforto e escreverem textos fora do seu estilo?

Zona de conforto... não se trata disso. Escrever é sentimento, é emoção... Eu sou uma romântica rebelde... Me sinto livre para escrever o amor, as emoções, todos os sentimentos físicos e espirituais... Jamais escreveria um policial, apesar de gostar da leitura e dos filmes, jamais escreveria... seria incapaz de tratar da violência de um crime ou criminoso... Também escrevo sobre literatura, que na verdade é muito difícil... mas procuro detalhar meu ponto de vista sobre o que sinto e vejo... O dia a dia e sua simplicidade é muito mais interessante... e se caso não for... eu dou um jeito...

 

Rubens Francisco Lucchetti: Que é o ato de escrever para você? É uma espécie de catarse? Deseja, escrevendo, livrar-se de seus traumas, angústias, medos?

Com certeza! Eu gostaria de mudar o mundo! Não posso, na verdade, mudar o mundo, queria mesmo mudar as pessoas malvadas que vivem nele... Também não posso... Eu já lutei em muitas batalhas... algumas venci, outras eu perdi. E estou cansada de lutar sozinha, pelas injustiças, pela falta de cumprimento das leis e normas de conduta (me refiro ao dia a dia em nossas ruas e cidades e aos governos de todas as esferas). Pequeninas ações eu ainda costumo fazer... mas prefiro me refugiar na poesia e nos meus contos apaixonados... A escrita me deixa completamente livre, e é uma sensação indescritível...