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Entrevista publicada no FLAL em 2025
Entrevista publicada no FLAL em 2025

Biografia Nell Morato

Brasileira, gaúcha, formada em Contabilidade. Autora do romance, Ensaios para a Lua de Mel em português e em inglês, Rehearsals for the Honeymoon; dos livros de poesias, Fragmentos de um Desejo e Tão Longe e Tão Perto em português e em inglês, So Far So Close e da Coletânea Um Passeio entre Contos e Crônicas. Com participação em várias coletâneas, no Brasil e em Portugal. Ativista literária, atuando como editora responsável pela área de marketing, na Leia Livros Editora e Livraria, assim como, revisora de textos e administradora dos sites https://www.almanaqueliterario.com e https://espaconellmorato.com  também faz parte da equipe organizadora do FLAL Festival de Literatura e Artes Literárias.

 

Nell Morato é uma escritora brasileira que se destaca por sua forte paixão pela língua portuguesa e pela preservação da integridade literária. Além de autora, ela também atua como revisora, ajudando escritores a lapidar seus textos, especialmente aqueles que têm boas ideias, mas enfrentam dificuldades com a escrita formal.

 

Seus trabalhos são conhecidos por serem sinceros e carregados de emoções. Nell valoriza muito a comunicação verdadeira e direta, algo que ela acredita ser fundamental nas relações humanas. A escritora também é envolvida em iniciativas para apoiar a literatura brasileira e os escritores nacionais, promovendo a valorização da cultura através das palavras.

 

Ela é defensora da preservação de obras clássicas sem modernizações, acreditando que tentar "facilitar" a leitura de textos antigos como os de Machado de Assis pode diluir seu valor artístico. A escritora é também fascinada por arqueologia e história, o que reflete seu interesse por temas profundos e duradouros

 

“A Literatura me dá a liberdade de ser eu mesma e, percorrer caminhos desconhecidos na minha própria essência. Vivo e sinto tudo com emoção porque: ‘a vida é um espetáculo e sempre vou querer estar no palco’”.

 

 

1- Qual foi o momento ou a experiência que mais te marcou e te impulsionou a seguir a carreira de escritor(a)?

— A entrada no Facebook e Twitter, com o objetivo de divulgar meu livro, Ensaios para a Lua de Mel. Aconteceu que conheci escritores, grupos literários, páginas, pessoas e uma infinidade de informações passaram a fazer parte do meu dia a dia.  Eu não pretendia seguir escrevendo, tinha em mente ser autora de um único livro... Abri a conta em 31/10/2013 e, no fim daquele ano já estava completamente envolvida pela atmosfera literária e inúmeras possibilidades. E logo comecei a interagir com autores portugueses, conhecendo um poeta que me convidou para o lançamento de seu livro em Lisboa. Naturalmente não compareci, porém, acompanhei o evento pelo Facebook. Foi surreal para uma gaúcha que não lia muita poesia.

 

2-​ Como você lida com o bloqueio criativo? Existem rituais, técnicas ou estratégias específicas que você utiliza para superá-lo? 

— Tenho dificuldades para escrever por “encomenda”. Escrever com prazo estipulado, isto é, ter data para entregar, como num edital de concurso. Para a escrita fluir naturalmente eu preciso de emoções, sejam elas agradáveis ou não.  O tempo também é precioso...

 

3- ​Qual é a sua rotina de escrita? Você tem um horário fixo, um local específico, ou sua criatividade flui de forma mais espontânea? 

— Não tenho. Tudo acontece naturalmente. Às vezes, quando bate a empolgação a dificuldade é parar.  A editora interrompeu a fluência na escrita. Pretendo me afastar no início do próximo ano, digamos que “vou sair de férias”. Férias literárias.

 

4- Entre todos os personagens que você já criou, existe algum que te marcou de forma especial? Por quê?

— A Laura Walker, de Ensaios para a Lua de Mel. Mulher madura, forte, determinada, que no ápice de sua vida encontra o amor de uma maneira inusitada. Ela herdou algumas coisinhas da minha personalidade.

 

5- Qual a maior lição que você aprendeu em sua jornada como escritor(a) até agora?

— Encontrei as palavras para definir minha trajetória... a maneira como me sinto "escritora"... Foi num post de uma amiga, o qual eu pedi emprestado para mostrar aos meus amigos, há algum tempo...

"Não tenho talento, gente. O que acontece comigo é uma coisa muito simples. Malba Tahan tem um conto sobre um homem que tinha um olho de lince. É que ele esteve durante muito tempo na prisão e encontrou seis alfinetes. Ele jogava os alfinetes para o alto só para procurá-los depois. Assim, foi desenvolvendo a vista. É meu caso. Entrei numa cela, ou numa selva, e tive de sobreviver, usando todos os truques bons e maus que sabia na medida das minhas características e das minhas qualidades." Por Grande Otelo

Além disso, vi e ouvi tanta pompa e circunstância, que no cenário de aparências em que vivemos hoje em dia, a mediocridade parece uma grandiosidade.

6- Como você pesquisa e se aprofunda nos temas de suas obras, especialmente quando envolvem contextos históricos, científicos ou culturais específicos? 

— Leio muito. Jornais, revistas e o santo Google, que ajuda demais. Com o elevado número de fake news e com o uso indevido da IA, não acredito nem em simples post nas redes sociais. Se interessar, vou pesquisar se é verdade ou mentira. Assim como já alteraram livros didáticos, por motivos insignificantes, precisamos tomar cuidado com tudo. Pesquisar é necessário, mesmo criando um cenário fictício.

 

7- Qual o papel da leitura em sua vida e em sua escrita? Existe algum(a) autor(a) ou obra que você considera uma grande influência? 

— Como escrevi na pergunta anterior, eu leio muito. Uso o Claro Banca, que me dá acesso gratuito a vários jornais e revistas no país. Não considero influência a literatura dos escritores renomados que eu gosto, como Jeffrey Archer, Harold Robbins, Danielle Steel, Harlan Coben, Erico Verissimo, Clarice Lispector. Na poesia foi diferente, eu só lia Mario Quintana...Quando eu mergulhei nos versos, passei a ler, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cora Coralina e outros tantos.  Tem uma frase que costumo citar, do Erico Verissimo, com a qual eu me identifico: “Ele dizia que não escrevia a vida como ela era, mas como ele gostaria que fosse.” Da mesma forma, a poética de Aristóteles: “O poeta fala das coisas não como elas são, mas como poderiam ser.” E mais: “diz que o poeta fala o que é possível, e não sobre o que é verdadeiro.”  Eu escrevo assim... “A poesia vem da própria existência, do nosso íntimo, da maneira de ver o mundo e tudo que nele existe, através dos olhos da alma, de sentir e transformar o que estamos vendo com toda a nossa essência.”nellmorato

 

 8- ​Para você, qual o maior desafio em publicar um livro hoje em dia e como você enxerga o futuro do mercado editorial? 

— O problema não é publicar o livro. O problema é vender o livro ou ser lido, despertar o interesse na sua escrita.

Frequentemente eu leio em algum grupo, autores procurando editoras “de verdade” para publicarem seus livros... Aí, uns e outros escrevem que a maioria é prestadora de serviços, que se dizem editoras, que apenas imprimem o livro cobrando e o autor precisa vender... Qual é o problema?  Editoras tradicionais não se interessam por autores desconhecidos, o objetivo é faturar com bons títulos, de preferência com escritores premiados. O custo de uma distribuidora é alto e se você é um autor desconhecido, seus livros ficarão nas prateleiras do fundo e bem embaixo, isso, se não ficarem num depósito de livraria. Mesmo pagando pelo serviço.  As livrarias não compram livros, são consignados e com cronograma de pagamento.

Quando eu negociei com a antiga Livraria Cultura, para vender meu livro Ensaios... eles pediram 25 exemplares. O pagamento seria após a venda e em 90 dias. Não aceitei. Até guardei o contrato, que não assinei, para nunca esquecer que não valia a pena. Uma amiga da época até disse:  Como? É a Livraria Cultura? Como que não vai colocar teu livro lá? 

Pois é... e a Livraria tão famosa não me pagaria...

 

9- Se você pudesse dar um conselho a um escritor(a) iniciante, qual seria a dica mais importante que você compartilharia? 

— Leia muito. Faça palavras cruzadas, que amplia o vocabulário. Consulte o melhor amigo de um escritor, o dicionário.  E hoje em dia, mais uma dica: não use a IA para escrever.  Se você tem vontade de escrever, se acha que tem talento, mesmo que seja só um pouco, siga em frente, escreva, escreva e reescreva e tente de novo... Peça ajuda em grupos, no FLAL.  Somos tantos escritores, aproveitem as oficinas, os debates, as entrevistas. Absorva a experiência de tantos autores que circulam em nossos festivais.

 

10- ​Além da escrita, existe alguma outra forma de arte ou hobby que nutre sua criatividade e te ajuda no processo de criação? 

— Eu fazia bijuterias exclusivas para lojas... Que coisa interessante... Há alguns, muitos anos, precisei de uma verba extra e não queria dever para o banco... Aí, uma amiga disse que eu era muito talentosa e deveria criar alguma coisa de crochê ou bordado para vender e obter o din din que eu necessitava.  Criei faixas para o cabelo de crochê e bordadas com miçangas... Em dois meses eu resolvi meu problema... Então, eu gostei tanto que continuei a produção e acabei vendendo para lojas e depois a coisa se ampliou, naturalmente.

O interessante é que entrei nessa sem querer, aleatoriamente, como na escrita.

Mas, a escrita apareceu depois que parei de fumar. Meu cérebro oxigenou, se livrou da fumaça e as palavras brotaram...

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