
MEMORIAL EM PORTO ALEGRE HOMENAGEIA VIDAS MARCADAS PELA PANDEMIA
Localizado na sede da AMRIGS, o Memorial da Gratidão relembra a dedicação dos profissionais da medicina e dos pacientes que perderam a vida no combate à Covid
Três placas de bronze prestam homenagem permanente aos profissionais da linha de frente da medicina e aos pacientes que pereceram durante o combate à pandemia de Covid-19.
Inaugurado em 16 de dezembro de 2021, o Memorial da Gratidão completa quatro anos e pode ser visitado gratuitamente no foyer da sede da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre. O horário de visitação é de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
A morte, a ciência e a cura estão representadas de forma simbólica em cada painel. A obra, batizada de A Esperança de Pandora, convida à reflexão aqueles que sobreviveram à doença. Apenas no Rio Grande do Sul, desde o início da pandemia – há cinco anos – foram registrados mais de 3 milhões de casos e 43 mil mortes causadas pelo coronavírus.
— O que a gente passou naquele momento foi tão distópico, que pensei em fazer algo tríptico. Algo que lembrasse os mortos, os que combateram à pandemia por meio das vacinas e aqueles que tiveram final feliz: médicos que conseguiram curar os pacientes, e pacientes que foram curados dentro dos hospitais — contextualiza o médico cirurgião plástico Paulo Favalli, autor da obra.
A ideia de criar as três placas surgiu no final de 2020, no auge da pandemia. A AMRIGS procurou o médico e escultor solicitando um monumento que homenageasse os profissionais da medicina que estavam morrendo no combate à Covid-19. A modelagem foi realizada no estúdio de Favalli e, na sequência, as esculturas foram fundidas em bronze na Fundição de Jamil Fraga, na Vila Nova. Cada peça pesa mais de 100 quilos.
— Tem um pouco da linguagem do meu trabalho, que é de apropriação de objetos. Então, num painel tem um microscópio, uma lupa. Em outro tem peças de máquinas de escrever que falam sobre o RNA que define o vírus da Covid. Tem também um pouco do que remete a uma bomba de oxigênio. É uma mistura de bronze com apropriação de materiais — explica o médico, que se dedicou ao trabalho durante um ano.
Entre os materiais utilizados na criação das placas, além do bronze, estão partes e fios de cobre, um microscópio, lupa, parafusos de computador, teclas de máquina de escrever, agulha de HD antigo, conector de mangueira, rolamento, disco de freio e peças de vela automotiva, além de um domo de acrílico e parafusos de latão. Em dezembro de 2020, quando ainda não havia vacina disponível, o escultor contraiu Covid, o que o obrigou a paralisar temporariamente o projeto. Assim, somente a partir de março de 2021 a obra começou de fato a ser esculpida. A ideia inicial era inaugurá-la no Dia do Médico – 18 de outubro –, mas o processo atrasou e isso não foi possível.
— Naquela época, ainda trabalhava no Hospital de Pronto Socorro de Canoas como cirurgião plástico no caráter de atender emergências. Mas o próprio Pronto Socorro de Canoas se transformou por causa da Covid. Leitos de sala de recuperação viraram leitos de UTI, como vimos acontecer em muitos hospitais. Os hospitais estavam colapsados — recorda.
Além disso, de acordo com o médico, a experiência parecia algo distante do mundo real:
— O que imaginávamos em distopias e histórias de ficção científica, vimos acontecer. A gente se conscientizou de que a possibilidade de um vírus extremamente letal tomar conta do planeta inteiro não está distante. Até hoje, a gente vive as consequências disso.
Conforme enfatiza, o Memorial da Gratidão presta homenagem não apenas aos médicos, mas também a todos os profissionais da saúde, aos cientistas e aos pacientes que sucumbiram ao vírus.
— Foi muito traumático. Tem muita gente que ainda sofre por ter perdido parentes. Isso não tem como recuperar. Tem que se aprender a conviver com essa realidade — conclui.
Fonte: Zero Hora/André Malinoski em 08/12/2025