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Já ouviu falar em Peptídeos?
Já ouviu falar em Peptídeos?

JÁ OUVIU FALAR EM PEPTÍDEOS? VEJA POR QUE O USO DESSAS SUBSTÂNCIAS PREOCUPA ESPECIALISTAS

Produtos têm sido associados à definição corporal e à melhora na qualidade da pele, mas vêm sendo usados de maneira indiscriminada, extrapolando indicações consideradas seguras

 

Uma nova febre no mundo da beleza vem preocupando médicos e profissionais da área estética. Os peptídeos, que funcionam como mensageiros químicos no corpo, estão sendo usados de maneira indiscriminada, extrapolando as indicações consideradas seguras.

 

Parte constituinte das proteínas, os peptídeos são pequenas cadeias de aminoácidos capazes de desempenhar diferentes funções nas células do organismo. No âmbito estético, eles têm sido associados, sobretudo, ao aumento da massa muscular e da definição corporal, além de uma melhora na qualidade da pele.

 

Entretanto, esses supostos benefícios ainda geram dúvidas entre especialistas, pois muitas das substâncias que se popularizaram não são permitidas pelos órgãos reguladores em razão da ausência de estudos clínicos que garantam sua eficácia e segurança.

 

A endocrinologista Letícia Weinert, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no RS, explica que a lógica de quem recorre aos peptídeos para obter resultados físicos está na relação dessas substâncias com as proteínas. É algo que faz sentido na teoria, mas, segundo a médica, não tem comprovação prática.

— Quando ingerimos uma proteína, precisamos digeri-la para, então, degradá-la em peptídeos e aminoácidos. A teoria é que, inserindo essa proteína em "pequenos pedaços", que são os peptídeos, haveria uma absorção mais rápida e uma melhor utilização pelo nosso organismo. O problema é que não há respaldo científico para essa inserção, que muitas vezes é feita de maneira insegura e até clandestina — explica. 

 

Riscos do comércio ilegal

A médica relata preocupação com o comércio ilegal dos “peptídeos da moda”. O termo se refere a tipos de peptídeos que, apesar de não estarem regulamentados pela Anvisa e por órgãos internacionais, como a FDA, nos Estados Unidos, são facilmente encontrados na internet, em academias, lojas de suplementos e farmácias de manipulação.

 

Tais produtos se popularizaram no meio bodybuilder – como o fisiculturismo – pois prometem acelerar os resultados da musculação. Nas redes sociais, também se tornou comum ver blogueiras recomendando ativos e tratamentos à base de peptídeos, muitos deles não regulamentados, para melhorar aspectos da pele.

 

A dermatologista Rochele Durgante esclarece que, hoje, não existe liberação para nenhum tipo de peptídeo injetável para fins estéticos, de modo que procedimentos que consistem em injetar essas substâncias na pele não são seguros.

— O mesmo vale para outras substâncias que estão em alta, como os exossomos e o PDRN (polideoxirribonucleotídeo), que também não têm liberação da Anvisa para uso injetável, apesar de haver pessoas que os aplicam — acrescenta.

 

A endocrinologista Letícia Weinert enfatiza que o uso de substâncias sem regulamentação, comercializadas de maneira ilegal, pode causar desordens hormonais e metabólicas importantes. Além disso, existem riscos cujo potencial de gravidade ainda é desconhecido, porque não há estudos capazes de dimensioná-los.

— A primeira preocupação é o conteúdo dessas substâncias. Como a comercialização é ilegal, não há qualquer vigilância, de modo que não se sabe o que realmente há ali e não se pode sequer mensurar os riscos envolvidos. Em segundo lugar, quando peptídeos são usados como anabolizantes, para estimular o hormônio do crescimento e a testosterona e aumentar o ganho de massa muscular, isso pode ocasionar um desequilíbrio hormonal perigoso — detalha a médica.

 

Como utilizar com segurança

No Brasil, existem alguns peptídeos regulamentados que podem ser utilizados com acompanhamento profissional. É o caso dos peptídeos de colágeno Bodybalance® e Fortibone®, encontrados na forma de suplemento alimentar e consumidos por via oral. Alinhados à prática de exercícios físicos, eles prometem melhorar a composição corporal — mas, conforme a endocrinologista Letícia Weinert, não fazem milagres e não são indispensáveis.

— Os suplementos com peptídeos de colágeno trazem resultados discretos, assim como a creatina. Não é o caso de achar que vai ficar super bombado e definido só por estar consumindo. A verdade é que não existe um caminho fácil. Essa coisa de querer cortar o caminho é, geralmente, perigosa — frisa a médica.

 

No âmbito da dermatologia, o uso dos peptídeos de forma segura e regulamentada é possível por meio de cremes e séruns, todos de uso tópico. Peptídeos como o Matrixyl® e o Argireline® podem ser encontrados em produtos de diversas marcas, com a promessa de melhorar a textura da pele, estimular o colágeno e reduzir manchas.

 

Contudo, conforme a dermatologista Rochele Durgante, produtos à base de peptídeos devem ser utilizados mediante acompanhamento profissional. Isso porque alguns tipos não são indicados para todas as peles e podem ser incompatíveis com outros ativos.

— Peptídeos como os de cobre, por exemplo, não devem ser usados com vitamina C, um ativo muito comum do skincare — exemplifica Rochele.

 

A médica alerta, ainda, para a importância de utilizar somente produtos à base de peptídeos liberados pela Anvisa. Cremes e séruns com substâncias não regulamentadas são facilmente encontrados na internet, acompanhados de propagandas que prometem o efeito de um “botox sem agulhas”, o que não é garantido cientificamente.

 

Nesse sentido, Rochele esclarece que todo tratamento dermatológico de uso tópico, com ou sem peptídeos, têm resultados limitados — ou seja, pode ajudar, mas não vai rejuvenescer ninguém.

— É importante alinhar as expectativas, porque há um marketing agressivo em torno dessas substâncias. Hoje, só o que se pode utilizar de forma segura são os peptídeos de uso tópico, mas nenhum produto desse tipo traz o mesmo resultado de um botox ou de um bioestimulador de colágeno injetável. O efeito é pequeno e sutil — conclui.

 

Fonte: Zero Hora/Revista Donna/Camila Bengo em 12/12/2025