WHEY PROTEIN E CREATINA NA DIETA DE IDOSOS: CONFIRA SE SUPLEMENTOS SÃO SEGUROS E PODEM SER INCLUÍDOS NA ROTINA
Substâncias que se popularizaram entre praticantes de musculação também são opções para quem está na terceira idade, mas não devem ser usadas sem orientação
Suplementos que se popularizaram entre atletas e praticantes de musculação, o whey protein e a creatina podem ser utilizados também pelos idosos.
As duas substâncias, cada uma com a sua funcionalidade, podem trazer benefícios ao combate do processo de degeneração muscular que é característico do envelhecimento. Contudo, nenhuma delas deve ser utilizada de forma irrestrita.
PARA QUE SERVE O WHEY PROTEIN?
Um estilo de vida saudável inclui a prática de exercícios físicos e uma alimentação balanceada, que leve em consideração as necessidades nutricionais. A nutricionista Carolina Guerini, doutora em Ciências Biológicas pela UFRGS e professora do departamento de Nutrição da universidade, diz que cada pessoa tem uma quantidade específica de macronutrientes necessários para a manutenção de peso, percentual de gordura e índice de massa muscular considerados saudáveis.
No caso da massa muscular, o principal componente é a proteína. Por vezes, só o consumo de alimentos não dá conta da quantidade de proteínas que é necessária para manter ou repor a massa muscular perdida, sendo preciso complementar de outra forma.
É aí que o whey protein entra como um aliado. O suplemento é um composto alimentício em pó que reúne uma grande quantidade de proteína derivada do soro do leite — geralmente, entre 20 e 25 gramas por dose. Pode ser consumido diluído em bebidas como a água e o leite ou misturado em receitas.
O WHEY PROTEIN PODE SUBSTITUIR AS REFEIÇÕES DOS IDOSOS?
O consumo de whey protein é seguro para pessoas saudáveis em qualquer faixa etária, mas o suplemento não deve ser encarado como um substituto dos alimentos, conforme frisa a nutricionista Carolina Guerini:
— O whey protein foi desenvolvido para uma premissa específica: quando não se consegue atingir as necessidades do organismo através da alimentação. O consumo dele deve ser sempre baseado nisso. Então, se a pessoa tiver uma alimentação adequada às suas necessidades nutricionais, ela pode não precisar de suplemento em momento algum da vida, nem mesmo na terceira idade.
OS IDOSOS PRECISAM TOMAR WHEY PROTEIN?
Ninguém precisa obrigatoriamente tomar whey protein. Toda e qualquer necessidade proteica pode ser atingida através da ingestão de alimentos como carnes, ovos e leguminosas. Porém, no caso dos idosos, alcançar a meta de proteínas somente através dos alimentos pode ser um desafio, já que muitos apresentam resistência à comida.
É o que explica a nutricionista Marta Arisi, especializada em nutrição geriátrica:
— Embora seja possível alcançar a ingestão proteica ideal somente com os alimentos, é comum as pessoas chegarem à terceira idade com uma redução do apetite, recusando determinadas comidas ou preferindo fazer lanches em vez de refeições completas. Nesses casos, o suplemento pode se fazer necessário, para evitar que essa mudança no hábito alimentar traga prejuízos à saúde.
Conforme a Marta, a resistência dos idosos ao consumo de alimentos pode abranger também o whey protein. Nem todo idoso vai aceitar ingerir o suplemento na quantidade necessária, o que torna a equação nutricional ainda mais delicada.
— Tenho casos em que mesmo combinando alimentação e suplemento não se consegue bater a quantidade necessária de proteína, porque o idoso só aceita consumir um mínimo de cada coisa. Aí é preciso avaliar o que pode ser aumentado, um pouquinho aqui e outro ali, para atingir a meta sem que o paciente sinta tanta intolerância — detalha.
Vejo que há uma banalização muito grande do uso do whey protein. As pessoas estão consumindo quantidades acima do necessário, por vezes até abrindo mão de comer comida para ingerir o suplemento. Não é assim que funciona por Carolina Guerini, professora do departamento de nutrição da UFRGS
QUE HORAS O IDOSO DEVE TOMAR WHEY PROTEIN?
Quando fica comprovada a necessidade do uso de whey protein, o suplemento sempre deve ser incluído na dieta de forma estratégica, de modo a não prejudicar a alimentação.
Conforme Marta, além de calcular a quantidade de whey a ser utilizada, é preciso pensar no período ideal para esta ingestão. O melhor horário para o consumo depende do hábito de cada paciente e deve levar em consideração questões como o apetite e a disposição do idoso para se alimentar.
— O whey protein traz saciedade. Então, ele deve ser administrado em um horário que não vá prejudicar a alimentação do idoso. Por exemplo, se ele já apresenta redução de apetite e resiste às refeições, não é estratégico oferecer whey protein no meio da manhã, porque depois não vai querer almoçar — exemplifica a nutricionista.
Em grande parte dos casos, conforme a profissional, o melhor horário para o consumo do whey protein acaba sendo após a última refeição do dia, antes de dormir, para não interferir no apetite. Porém, cada caso deve ser avaliado de forma individualizada.
WHEY PROTEIN OFERECE RISCOS?
A profusão de cenários evidencia a importância do acompanhamento profissional. Isso porque, além da necessidade de um planejamento alimentar personalizado, baseado nas necessidades nutricionais de cada idoso, o whey protein pode não ser seguro para todos.
A nutricionista Carolina Guerini explica que o suplemento não oferece riscos para a maior parte das pessoas, mas é contraindicado para quem sofre de determinados problemas de saúde, como a insuficiêcia renal.
— Quando o paciente tem uma doença renal, o consumo de proteína deve ser controlado e por vezes até reduzido, porque o nutriente pode sobrecarregar os rins. Nesses casos, a suplementação com whey protein, além de não fazer sentido, pode se tornar perigosa — detalha.
A professora da UFRGS defende que o suplemento não deve ser usado sem orientação de médico ou nutricionista. E mesmo quando o risco não apresenta risco para a saúde, o whey protein não precisa ser a primeira opção:
— Vejo que há uma banalização muito grande do uso do whey protein. As pessoas estão consumindo quantidades acima do necessário, por vezes até abrindo mão de comer comida para ingerir o suplemento. Não é assim que funciona. O whey serve para complementar o que está faltando, se estiver faltando.
PARA QUE SERVE A CREATINA?
A mesma orientação vale para a creatina, que deve ser tratada com ainda mais cuidado, conforme a Carolina. O suplemento é um composto de aminoácidos que atua na produção de energia muscular, melhorando o desempenho durante a execução dos exercícios.
A substância é segura para idosos saudáveis, mas a professora da UFRGS pondera que seu uso pode não fazer tanto sentido nesta faixa etária. Isso porque, diferentemente do whey protein, que não está intimamente atrelado à prática de atividade física, a creatina só traz benefícios para quem realiza exercícios de força, impacto ou resistência muscular.
Até pode ser consumida por um idoso que faz musculação e quer melhorar a sua disposição nos treinos, por exemplo, mas dificilmente será indispensável.
— A creatina é um suplemento desenvolvido para atletas, que serve para dar mais potência à execução de exercícios. Ela pode ser consumida, mas será que um idoso que não é atleta precisa ter explosão muscular? É algo que a gente deve se perguntar, porque, para a grande maioria, será um gasto sem sentido algum — diz.
CREATINA FAZ BEM PARA O CÉREBRO?
Conforme a nutricionista, o real benefício do suplemento só será sentido por idosos que têm alguma doença degenerativa que prejudica o metabolismo natural da creatina, a exemplo da Deficiência do Transportador de Creatina (DTC).
— Porém, estamos falando de doenças raras e muito específicas — pondera.
Sobre o senso comum de que "a creatina faz bem para o cérebro" e, por isso, deve ser utilizada por idosos, a professora da UFRGS diz não haver evidências científicas:
— Existe esse discurso de que a creatina ajuda na memória, ajuda na cognição, mas os estudos mais confiáveis, que incluem processos de revisão e metanálise, não mostram isso. Não há indícios de que pessoas idosas tenham benefícios ao usar creatina para questões do cérebro.
CREATINA TRAZ RISCOS PARA OS IDOSOS?
Assim como o whey protein, a creatina não deve ser consumida sem orientação profissional. O suplemento pode ser prejudicial para quem sofre de problemas cardíacos, por exemplo.
A professora da UFRGS explica que, em estágios avançados, a doença cardíaca gera um aumento do edema corporal, fazendo com que o indivíduo fique mais inchado. Este inchaço, que naturalmente dificulta o trabalho do coração, pode se agravar ainda mais com o consumo da creatina.
— A creatina também promove um inchaço, mas a nível muscular. Não é algo preocupante para pessoas saudáveis, mas, para quem já enfrenta um quadro de insuficiência cardíaca, será uma sobrecarga a mais para o coração — diz.
Para a nutricionista geriátrica Marta Arisi, o melhor é sempre buscar acompanhamento adequado e entender que nenhum suplemento alimentar funciona como mágica, tampouco resolverá todos os problemas sozinho.
— Não é porque o idoso está consumindo um suplemento que a gente pode esquecer do restante da alimentação. É preciso ter quantidades adequadas de proteínas, de carboidratos, de fibras, de aminoácidos e de vários outros nutrientes. O ideal é sempre buscar um profissional.
Não é porque o idoso está consumindo um suplemento que a gente pode esquecer do restante da alimentação por Marta Arisi, nutricionista geriátrica
PERDA DA MASSA MUSCULAR
Carolina Guerini explica que, invariavelmente, o avanço da idade vem acompanhado da perda de massa, de força e de função musculares.
Esta degeneração ocorre de forma lenta e progressiva durante toda a vida, mas ganha força a partir dos 40 anos e atinge seu ápice após os 60. É neste período que o índice de massa muscular deve ser olhado com maior atenção, para que se mantenha em níveis saudáveis.
— A manutenção da massa muscular é uma preocupação para a vida inteira, ainda mais na terceira idade, quando esse processo de perda se acelera — diz Carolina.
QUALIDADE DE VIDA
No caso dos idosos, o músculo também é determinante para a qualidade de vida, conforme a nutricionista:
— O músculo saudável vai ajudar a preservar a funcionalidade do idoso. Isso quer dizer que pessoas que chegam à terceira idade com massa muscular preservada têm melhores condições de se tornarem idosos ativos, que conseguem manter a independência.
A professora da UFRGS explica que não é possível parar o processo natural de perda de massa muscular, mas que há formas de minimizá-lo. A principal delas é a adoção de um estilo de vida saudável.
— Quanto antes adotarmos esses hábitos, melhor, pois o que fazemos hoje determina o idoso que seremos no futuro — pontua Carolina.
Fonte: Zero Hora/Revista Donna/Camila Bengo em 04/05/2025