A FLOR E O VENTO
Era um lindo jardim. Canteiros bem cuidados, com muitas flores coloridas espalhando seu perfume ao redor da pequena casinha branca.
Na janela aberta, bem junto à porta de cor rosa, pendia uma floreira com plantas ainda brotando... Que flores desabrochariam ali, para acrescentar beleza e encantamento ao cenário romântico? Margaridas, belas e recatadas margaridas.
A primavera passava seus dias entre as chuvas torrenciais, o calor abafado e os ventos fortes... Às vezes, uma suave brisa vinha refrescar as flores, que ficavam sedentas e esbaforidas pelo calor do sol.
Um dia, que já era o tempo dos botões de margaridas desabrocharem, uma delas, nem tão alto e nem tão baixo o seu caule, seria, com certeza, uma bela flor, como qualquer outra das margaridas da floreira, sentiu um arrepio, quando a suave brisa balançou a cortina cor-de-rosa pálido da janela. Com muito esforço conseguiu chamar a atenção da suave brisa... que curiosa veio soprar na floreira...
Passeando de um lado para o outro, refrescando as flores do belo jardim, a suave brisa encantou-se com os botões esverdeados de pontas brancas... e ali ficou soprando e como num bailado girava suavemente, enamorando-se da futura flor, que se abriria para o doce e delicado amor que nascia no anoitecer de um dia qualquer...
Ao amanhecer, tão logo os primeiros raios do sol clarearam o dia, a suave brisa deslocou-se para a floreira da janela, disposta a soprar e refrescar a futura flor... e para sua surpresa, encontrou a florzinha desabrochando... todas as outras flores afastaram-se, dando espaço para as pétalas brancas se abrirem brilhando à luz do sol...
A suave brisa apaixonada soprou suavemente por entre as belas pétalas brancas, admirando o dourado de seu centro. A jovem margarida não cabia em si de tanta felicidade. Havia desabrochado para a vida adulta e para o amor da suave brisa... E suas pétalas brancas acariciadas pela brisa, bailavam como se fosse a floreira, o salão onde acontecia o grande baile do nascimento. E entre tantas flores, a escolhida foi ela, a modesta margarida...
A primavera continuou seus dias, dividindo-se entre as chuvas repentinas, os ventos gelados que sopravam a noite e a suave brisa que acariciava sua bela margarida... O perfume das flores continuava a se espalhar ao redor da casinha branca e às vezes, o vento o empurrava pela janela, indo perfumar os pequenos cômodos daquela morada.
Um dia, sempre existe um dia para quebrar o encantamento de uma vida feliz. A suave brisa percebeu que sua amada estava triste e suas pétalas levemente desbotadas, sem o brilho e a luminosidade de antes... E então, soube da verdade, que existe a vida e também a morte. Vida breve e sonho impossível.
Revoltou-se a suave brisa, sequer ouviu os lamentos da sua margarida, o mundo conheceria um vento apaixonado. Queria mostrar ao mundo inteiro a sua dor. E assim, a suave brisa foi se transformando num vento, num forte vento, numa ventania que desfolhou a sua margarida... levando-a em pétalas junto consigo para o mundo inteiro ver a sua dor...
Nell Morato
11/11/2016