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Tortura e Feminicídio de Estado
Tortura e Feminicídio de Estado

BANCADA CRISTÃ PROMOVE TORTURA E FEMINICÍDIO DE ESTADO

Compromisso de parlamentares 'cristãos' com projeto restringindo aborto nunca foi a diminuição de casos

Interrupção de gravidez é quinto maior causador de mortes maternas no Brasil

 

Tortura significa causar dor ou sofrimento intenso, físico ou mental, de forma intencional para obter informações, punir, intimidar ou por qualquer motivo baseado em discriminação, segundo convenção da ONU.

 

E agora é exatamente isso que pode ocorrer com meninas estupradas no Brasil: tortura promovida pelo Estado baseada em discriminação de gênero. Porque são mulheres, merecem sofrer. Tudo graças à crueldade da autodenominada "Bancada Cristã".

 

A ideia é institucionalizar a gravidez infantil forçada. O infame PDL (projeto de decreto legislativo) 3/2025, apoiado por "parlamentares cristãos", prevê que meninas estupradas precisarão recorrer à polícia para acessar seus direitos e que médicos poderão se recusar a realizar o aborto ao qual tem acesso garantido por lei. Meninas de 10 e 11 anos serão forçadas pelo Estado a parir os filhos de seus estupradores.

 

Além de promover a tortura de milhares de meninas, o PDL também irá tolher seu futuro. De acordo com especialistas do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), a gravidez na adolescência está associada a maior evasão escolar, perpetuação do ciclo de pobreza, negligência e maus-tratos infantis e depressão. Com a aprovação do tal projeto todos esses indicadores, bem como as vidas das meninas, vão piorar.

 

O compromisso de parlamentares "cristãos" nunca foi a diminuição de casos de aborto. Muito pelo contrário. As medidas mais efetivas para impedir gravidez indesejada, educação sexual e acesso a contraceptivos, são rejeitadas veementemente por parlamentares se dizem contra o aborto.

 

Hoje, mais da metade das gestações no Brasil não são planejadas. Um quarto das brasileiras simplesmente não usa contraceptivos, e as demais mulheres não têm acesso aos contraceptivos mais eficazes. Apenas 19% das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) do país fazem inserção de DIU (dispositivo intrauterino), método contraceptivo reversível e de longa duração bastante eficaz na prevenção da gravidez. Hoje, somente 2% a 4% das brasileiras usam DIU. E sim, meninas e mulheres que nunca tiveram filhos podem usar o método.

 

Curiosamente, ao impedirem a educação sexual nas escolas e o acesso a contraceptivos, os parlamentares autointitulados "cristãos" atuam justamente em prol do aumento da gravidez indesejada e do número de abortos.

 

Além disso, sabe-se há muito tempo que os países que criminalizam o aborto não possuem menos casos por conta da proibição. O que ocorre é o maior número de mortes evitáveis de meninas e mulheres em decorrência de abortos inseguros. Em outras palavras, feminicídio de Estado.

 

O aborto é o quinto maior causador de mortes maternas no Brasil. Segundo a OMS, cerca de 25 milhões de interrupções inseguras são feitas por ano no mundo, causando a morte de 39 mil mulheres e meninas. A maioria dessas mortes está concentrada justamente em países como o Brasil, que nega atendimento a meninas e mulheres e ainda as encarcera, a maioria mães solo, negras e pobres.

 

A hipocrisia reina. Enquanto meninas e mulheres ficam relegadas ao inferno imposto pela "Bancada de Satã", seus parlamentares continuam se elegendo e lucrando com mentiras.

 

Fonte: Folha de S.Paulo/Camila Rocha/Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento em 09/11/2025