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Não é sobre Israel, é o mundo que defendemos
Não é sobre Israel, é o mundo que defendemos

NÃO É SOBRE ISRAEL, É SOBRE O MUNDO QUE QUEREMOS DEFENDER

O Irã, mais do que um inimigo estratégico de Israel, é um inimigo declarado da modernidade

 

ataque de Israel às instalações nucleares do Irã pode ter surpreendido parte da opinião pública ocidental mas, para quem acompanha os bastidores da política internacional, ele estava anunciado há meses, senão anos. A operação, planejada e adiada em diversas ocasiões, só aguardava o esgotamento de uma paciência que, convenhamos, nunca foi infinita.

 

A decisão foi retardada a pedido dos Estados Unidos, ainda sob a aposta de Donald Trump numa improvável saída diplomática. Um truque de prestidigitação diplomática que ninguém mais acreditava. E como o desfecho não veio — porque nunca viria — Israel fez o que já sabia que teria de fazer: agir.

 

Os alvos não foram civis, nem campos de refugiados, nem hospitais como alguns apressados vão tentar sugerir. Foram instalações nucleares clandestinas e líderes da Guarda Revolucionária Iraniana, a força paramilitar que age como braço armado de um regime teocrático, misógino, sanguinário e imperialista, que sustenta o poder no Irã há mais de quatro décadas. Um regime que não representa os iranianos mas os vigia, os persegue e os condena. E que, além de tudo isso, exporta violência e fanatismo para o resto do mundo.

 

Financia o Hamas, sustenta o Hezbollah, arma os Houthis, infiltra milícias no Iraque e na Síria e espalha um projeto político que não visa apenas a destruição de Israel, mas a destruição da ideia de liberdade ocidental. O Irã, mais do que um inimigo estratégico de Israel, é um inimigo declarado da modernidade.

 

Mas isso, claro, é difícil de explicar em 280 caracteres. Nas redes, o conflito é reduzido a hashtags. As complexidades da geopolítica viram maniqueísmos. E o apoio ao Estado judeu — que há décadas vive cercado por vizinhos hostis e ameaçado de extinção — se transforma, por má fé ou ignorância, em acusação de belicismo. O revisionismo moral parte do princípio de que toda resposta israelense é exagerada, e todo ataque sofrido é, de alguma forma, culpa sua. Antissemitismo puro, na veia.

 

O curioso é que, nesse caso, boa parte da comunidade iraniana que vive no exterior e que, por isso, hoje, pode falar sem o risco de ser enforcada em praça pública, veio a público agradecer a Israel. Não pelos bombardeios, mas pelo que eles simbolizam: um freio possível à máquina de repressão e destruição do regime dos insanos aiatolás. Um último suspiro, talvez, de esperança por uma mudança real, que só parece possível quando o medo troca de lado.

 

A moderação da comunidade internacional também diz muito. Ainda não houve condenação em bloco ou cúpulas emergenciais. Houve silêncio. E, no silêncio, a confirmação de que, apesar do desconforto diplomático, muitos sabem que o recado era inevitável.

 

É evidente que haverá retaliações. Haverá discursos inflamados, ameaças, possivelmente atentados. O Irã vive de guerra, alimenta-se do medo. Mas é preciso dizer, com todas as letras: o único responsável pelo que está acontecendo é o próprio regime iraniano. Quem financia o terror, colhe a guerra.

 

Israel, como sempre, será tratado como pária. Mesmo sendo a única democracia plena da região. Mesmo sendo o único país onde mulheres, gays, muçulmanos e judeus convivem — com tensão, sim, mas com liberdade. E ainda assim, será acusado de tudo. Porque defender-se, quando se é judeu, é sempre interpretado como provocação.

 

Mas não se trata de provocação. Trata-se de sobrevivência. E, para um país que viu metade do seu povo ser exterminado há menos de um século, a sobrevivência nunca será negociável.

 

Fonte: Zero Hora/Gabriel Sant’Ana Wainer em 13/06/2025