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Aconteceu Comigo
Aconteceu Comigo

 

ACONTECEU COMIGO…

 

Não costumo divulgar assuntos pessoais, porém, esse é da máxima importância para nós mulheres e deve ser dividido, compartilhado e comentado.

 

Aguardava com ansiedade o exame anatomopatológico dos nódulos removidos das minhas mamas… e ontem recebi a notícia, que classifiquei como “mais ou menos”.

 

Em outubro de 2018, num exame clínico de rotina, minha médica percebeu que na mama direita havia um nódulo. Solicitou uma mamografia, que foi feita no final de outubro, nas duas mamas.

 

O resultado apresentava: na mama direita, um nódulo classificado na categoria 4 na Tabela BIRADS, que vai até 6.  E, na mama esquerda, nódulos benignos = calcificações.

 

O BIRADS é um manual de padronização que permite analisar as características das lesões mamárias (cistos, nódulos, calcificações) e estimar o risco de ser câncer de mama.

 

Fui encaminhada para o Hospital Santa Rita, do complexo da Santa Casa, o melhor em oncologia. A médica solicitou novos exames, que confirmaram as calcificações nas duas mamas. Marcado então, cirurgia para remoção dos nódulos e realização de biópsia. 

Não posso esquecer de mencionar, que eram dois nódulos na mama D e um na mama E.

Precisei fazer um tal de agulhamento, que significa:  Mapear e localizar os nódulos a serem removidos com o auxílio do mamógrafo. Isto é, o nódulo é localizado pelas imagens, a mama é anestesiada e introduzido um fio de metal até o referido nódulo, com a ajuda do monitor.  Quando da remoção, os médicos podem acessar diretamente o local, fazendo um pequeno corte ao redor do fio de metal.  Imaginem como era antigamente, sem a tecnologia atual…

 

Ontem recebi o resultado da biópsia, o exame anatomopatológico. Os dois nódulos da mama D eram calcificações benignas. Porém, o da mama E é um carcinoma ou um pré-câncer. 

Esse “um” da mama esquerda, estava escondido e não aparecia na mamografia. A médica que realizou a ecomamária encontrou uma certa dificuldade para expor o nódulo para que fosse “fotografado pelo mamógrafo e assim foi feito.

 

Estava lá, escondido, silencioso, sonso, como todos os carcinomas… No que ele se transformaria? Não podemos saber. Em nada ou no decorrer do tempo, mudaria a sua classificação tornando-se agressivo e invadindo os ductos mamários…

 

O hospital fará parte da minha vida daqui para a frente, pois há necessidade de acompanhamento, e talvez medicamentos e não está descartada nova cirurgia para remover resíduos.  Aguardando reavaliação da biópsia.

 

“CARCINOMA DUCTAL IN SITU

O carcinoma ductal in situ, também conhecido como carcinoma intraductal, é considerado não invasivo ou câncer de mama pré-invasivo. A diferença entre o carcinoma ductal in situ e carcinoma invasivo é que as células não se disseminaram através dos ductos para o tecido mamário adjacente.

O carcinoma ductal in situ é considerado um pré-câncer, pois em alguns casos pode se tornar um câncer invasivo. Isso significa que ao longo do tempo, o carcinoma ductal in situ pode se disseminar. No entanto, atualmente não há como identificar quais cânceres se tornaram invasivos (ou não). Portanto, todas as mulheres com carcinoma ductal in situ devem ser tratadas.

 

Cerca de 20% dos novos casos de câncer de mama serão de carcinoma ductal in situ. Quase todas as mulheres diagnosticadas neste estágio da doença podem ser curadas.”

 

No início, pretendia remover as mamas, achando que com isso estava tudo resolvido. Não é bem assim. No meu diagnóstico, não precisarei fazer quimioterapia, mas terei que fazer radioterapia e o carcinoma não compartilha metástases.  Como disse acima, notícia mais ou menos. Quimioterapia é invasiva e os medicamentos usados destroem também, as células saudáveis. Já a radioterapia, que o médico indicou 25 seções, em cinco semanas, de segunda a sexta-feira – fim de semana é livre, para que o corpo se recupere da exposição à radiação – provoca apenas cansaço, além das possíveis lesões tópicas na pele exposta.

 

Mudei a maneira de pensar. E só tenho certeza, que jamais farei uma cirurgia ou qualquer procedimento invasivo, para corrigir defeito meramente estético. Jamais!

 

Encontrei uma mulher do interior do RS, que tratou um câncer e depois de dez anos… voltou. Então, precisou remover a mama. Se lá atrás ela tivesse optado em remover, teria evitado um novo câncer… porém, foram dez longos anos, uma década, que ela viveu bem, com saúde e com as mamas intactas.

Sem contar que ainda é uma mulher jovem, nos seus quarenta anos, acredito. Faz toda a diferença.

 

Na próxima consulta com a Oncologia, receberei a receita do medicamento que vai me acompanhar por cinco anos. Que será incorporado ao meu dia a dia, evitando que eu tenha recaídas. Esse nódulo não chegou a se instalar, estava lá perdido, procurando “fazer a sua casinha”, quem sabe criar uma família, enviando convites (metástases) aos amigos, para viverem juntos na minha mama esquerda. Tive sorte? Talvez!

 

 

Então, eu tive sorte? Não se trata de sorte ou azar. Trata-se de prevenção!

Estava lendo uma reportagem no Caderno Vida, do Jornal Zero Hora, de 11 de agosto, com o título “Câncer: Antes do Diagnóstico”, que fala sobre o número crescente de casos, e os médicos apostam em medidas preventivas para evitar a doença. Matéria assinada pela jornalista Camila Kosachenko.

 

“Os números são preocupantes: para o biênio 2018-2019 estimam-se mais de 600 mil novos casos de câncer no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). As notícias são ainda piores quando são projetados os próximos anos. Projeta-se que, em 2030, os casos da doença dobrem em todo o mundo, na comparação com o que existe atualmente.”

 

“Há causas para o câncer que não conseguimos prevenir, como alterações genéticas ou mutações celulares. Mas há uma série de fatores que são modificáveis, que entram como prevenção. São eles: evitar a obesidade, praticar exercícios físicos, ter uma alimentação saudável, com frutas e verduras, fugir das bebidas alcoólicas e combater o tabagismo, que está relacionado a uma infinidade de tumores, não só de pulmão – explicou a oncologista Ana Gelatti.”

 

“Tão ou mais importante do que o diagnóstico precoce é a educação da população em relação à saúde como um todo. Além de impactante, custa bem menos do que um tratamento de última geração.”

 

“Ao mesmo tempo em que você educa o paciente, você precisa ter recursos disponíveis. Não adianta dizer para as pessoas fazerem a mamografia se elas vão chegar à Unidade Básica de Saúde e não encontrar esse serviço disponível. É necessário educar e ter um sistema que responda à demanda. Isso é fundamental para fazer diagnóstico precoce de câncer no Brasil.”

 

“A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a mamografia anual a partir dos 40 anos. Pacientes com casos de câncer de mama e/ou ovário na família (mãe, irmã ou filha) precisam iniciar o rastreamento mais cedo, conforme orientação médica. Já o Ministério da Saúde recomenda mamografia de rastreamento para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.”

 

 

Eu penso que a mamografia deve ser feita a partir dos 35 anos. Deve ser incorporada à consulta anual com ginecologista. Prevenção salva vidas, salva mamas, que podem alimentar uma criança, alimentar a autoestima e até mesmo a libido…

 

E como diz a mastologista Maira, que também é presidente voluntária da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama): “Os pacientes têm de ser seus próprios defensores e precisam conhecer sua doença. Eles necessitam buscar apoio e cobrar dos médicos informação. Mas pode-se questionar: isso é responsabilidade do paciente? Sim. Infelizmente a gente não pode contar que o sistema de saúde esteja preocupado comigo. Estamos em uma realidade na qual só tem chance de cura quem procura ajuda rápida e não se conforma de ficar nas filas esperando.”

 

Nell Morato

12/06/2019 e 24/08/2019