ENTENDA POR QUE A MENOPAUSA PODE REDUZIR A LIBIDO E O DESEJO SEXUAL, COMO RELATADO POR FERNANDA LIMA
Período representa o fim da idade reprodutiva das mulheres e impacta a saúde feminina em diferentes esferas, inclusive a sexualidade
Em entrevista recente ao Fantástico, Fernanda Lima, 48 anos, chamou atenção para um sintoma pouco debatido da menopausa: a redução da libido. O período, que representa o fim da fase reprodutiva das mulheres, geralmente entre os 45 e 55 anos, impacta a saúde feminina em diferentes esferas, inclusive a sexualidade.
Ao programa da Globo, a gaúcha compartilhou sua experiência com sintomas típicos da menopausa, como os calorões. Contudo, para ela, o maior impacto foi sentido pela diminuição do desejo sexual.
— O mais chocante da menopausa para mim foi perder a vontade de transar. Isso me afetou como mulher e acabou interferindo no meu casamento. Dizer não para o Rodrigo Hilbert é uma responsabilidade enorme — disse Fernanda Lima.
Mas, afinal, a menopausa pode mesmo interferir na libido?
Fatores múltiplos
Conforme a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS, a resposta é sim. No entanto, a médica enfatiza que é preciso ter cautela ao relacionar a menopausa a esse sintoma, pois a baixa libido é uma queixa que acompanha as mulheres em várias fases da vida.
Segundo a médica, as mudanças hormonais características do período podem, sim, levar a um menor desejo sexual. Porém, para a maioria das mulheres, os hormônios não são os únicos responsáveis.
Maria Celeste observa que o desejo sexual feminino é muito associado ao momento de vida em que a mulher está. Portanto, se ela não se sente bem consigo mesma — a menopausa tende a impactar a autoestima, pontua a médica — ou enfrenta sintomas físicos como os calorões, dificilmente terá a mesma vontade de se relacionar sexualmente.
— É muito importante não generalizar, pois nem sempre a queda da libido será causada pela menopausa de forma isolada. Antes de indicar qualquer tratamento medicamentoso, é preciso entender tudo o que mais envolve o bem-estar dessa mulher — ressalta a médica.
De acordo com a professora da UFRGS, o único fator hormonal indiscutível é o ressecamento vaginal. Devido à baixa de estrogênio, a mucosa da vagina acaba ficando mais seca, o que prejudica a sexualidade das mulheres durante esse período.
— Muitas vezes a diminuição da libido está relacionada à falta de lubrificação vaginal, porque a mulher acaba sentindo desconforto durante a relação sexual. Aos poucos, isso vai fazendo com que ela não queira mais transar. Talvez o desejo até exista, mas como a penetração se torna dolorida, ela acaba evitando — explica.
Peso das emoções
Para a psicóloga e sexóloga Laura Meyer da Silva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH), a menopausa pode ser uma fase emocionalmente delicada para as mulheres.
— A sociedade valoriza intensamente a juventude, que também é muito associada à beleza. A menopausa é vista como o início do envelhecimento, e isso pode gerar sofrimento — comenta.
Assim, o período é encarado como uma prova incontestável de que se está envelhecendo — o que causa insegurança, baixa autoestima e sensação de desvalorização em muitas mulheres.
A sexóloga esclarece que esse conjunto de emoções conflitantes pesa quando o assunto é a diminuição da libido. Isso porque o desejo feminino está conectado ao funcionamento hormonal, mas também às questões emocionais, que em alguns casos podem ter uma influência até maior que os hormônios.
Com a mulher passando por um momento emocionalmente difícil, é natural que a libido sofra alterações.
— O desejo não desaparece, mas ele pode mudar de forma — enfatiza Laura. — O importante é que a mulher entenda essas mudanças e não deixe de desfrutar da sua sexualidade por causa disso. A menopausa não é um luto, é somente uma fase da vida, na qual é possível sentir tanto prazer quanto em qualquer outra — acrescenta.
Como contornar o problema
A sexóloga diz que a psicoterapia é grande aliada das mulheres nesse período. Também é importante contar com a compreensão do parceiro ou parceira.
Conforme Laura, é interessante que os casais busquem novas formas de aflorar o desejo sexual. Algo que pode incluir fantasias, uso de sex toys e estimulação de novas zonas erógenas, o que ajuda também na lubrificação vaginal.
— A imaginação mexe muito com a libido das mulheres, então, isso pode ser trabalhado. Também é legal explorar todas as áreas do corpo e novas formas de sentir prazer, porque ele não vem só da penetração — observa.
Já quando há influência direta da questão hormonal, o tratamento mais indicado é a reposição de hormônios femininos. Conforme Maria Celeste Osório Wender, esse tipo de terapia é mais usual para tratar sintomas como os calorões e o ressecamento vaginal, mas tende a provocar melhora também na libido.
A médica e professora da UFRGS diz que a reposição hormonal é, de longe, a melhor opção para contornar as manifestações da menopausa. Entretanto, nem todas as pacientes poderão ser submetidas ao tratamento. Mulheres que já trataram câncer de mama, por exemplo, não devem repor hormônios.
— Nesses casos, temos medicamentos da classe dos antidepressivos que têm efeitos também sobre esses sintomas da menopausa. Porém, a melhora será menor — explica.
Segundo Maria Celeste, o primeiro passo da mulher que está entrando nesse período deve ser procurar um ginecologista. Além disso, ela enfatiza que ter bons hábitos alimentares e manter um estilo de vida saudável, influencia positivamente o modo como a mulher vivenciará a menopausa.
Fonte: Zero Hora/Revista Donna/Camila Bengo em 26/08/2025