Enquanto você apertava o cinto no ônibus lotado, a ex-primeira-dama peruana condenada a a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro aterrissou tranquila em Brasília
Na terça-feira (15), a Justiça do Peru condenou o ex-presidente Ollanta Humala e sua mulher, Nadine Heredia, a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A condenação foi recebida com o velho discurso de sempre: “não somos culpados, as provas é que foram obtidas de forma ilícita”. O mesmo script usado no Brasil, com sucesso, por Lula e caterva.
Mas o enredo latino-americano não para por aí. Assim que ouviu a sentença, Nadine correu para a embaixada brasileira e pediu asilo político. Alegou perseguição. E, num passe de mágica diplomática, conseguiu. Enquanto você apertava o cinto no ônibus lotado, a ex-primeira-dama peruana aterrissou tranquila em Brasília, sorrindo no pouso pago com o seu imposto. Um pouso suave, protegido por um governo que até ontem se dizia vítima do mesmo tipo de processo.
É um tapa na cara. Um deboche institucionalizado. Um escárnio bancado por mim e por você, leitor. E a gente que aguente, que banque, que ature.
Não é diplomacia, é deboche. Há um trecho na delação de Marcelo Odebrecht em que ele diz, com todas as letras, que o pedido de propina para a campanha de Humala partiu do próprio Lula. Sim, o mesmo Lula que agora oferece abrigo a Nadine. Tudo tratado como um gesto de “solidariedade diplomática”. Uma piada sem graça, de extremo mau gosto.
Como explicar essa decisão para o povo? Qual é o critério? É ideológico? É geopolítico? Ou é só conveniente? Como sustentar a autoridade moral de um governo que exige punição severa aos radicais do 8 de janeiro, mas abre os braços e os cofres do Estado para acolher uma condenada por corrupção? Que tipo de coerência é essa?
A resposta é simples: não há coerência, há conivência. Política, ideológica, partidária. O asilo à ex-primeira-dama do Peru não tem nada de técnico ou jurídico. Tem tudo de decisão política disfarçada de humanitarismo. E esse é o ponto mais perigoso, porque quando a moral vira moeda de troca e o Estado se curva a afinidades pessoais, não há mais diferença entre legalidade e cumplicidade.
O brasileiro que trabalha, paga imposto, enfrenta fila nos hospitais, nas creches, no INSS, precisa saber que seu dinheiro bancou a fuga de uma bandida, uma corrupta estrangeira. Precisa saber que, enquanto a promessa era “combater a desigualdade”, um jato da FAB transportava o privilégio da bandidagem até Brasília. E precisa entender que isso não é acaso, não é erro: é projeto.
Como diria a Alcione, com a sabedoria de quem canta o Brasil há décadas: “Não sei se vou aturar esses seus abusos, não sei se vou suportar esses absurdos”. Nem a Marrom aguenta. E a gente, por quanto tempo mais vai fingir que tudo isso é normal?
Fonte: Zero Hora/ Gabriel Sant'Ana Wainer em 18/04/2025