Não há justificativa aceitável para mandar um avião da FAB buscar Nadine Heredia em Lima
Como o presidente Lula vai explicar aos brasileiros a concessão de asilo diplomático à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro? Mais: como explicar que Nadine e seu filho menor de idade tenham sido trazidos para o Brasil em um avião da FAB?
Certos atos de governantes não têm defesa, mesmo quando embalados no papel de seda da humanidade. A justificativa extraoficial de que Nadine já tinha pedido para residir no Brasil para fazer tratamento contra o câncer não cola. Nem brasileiros que estão vivendo no Exterior e precisam se tratar de uma doença grave têm o privilégio de voltar em aviões da FAB.
O máximo que o governo faz — e nisso acerta — é retirar brasileiros de zonas de conflito ou de desastres. Não se tem notícia de alguém trazido dos Estados Unidos, por exemplo, onde a medicina é caríssima, voltar em avião da FAB para se tratar de um câncer pelo SUS.
Nadine e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foram condenados sob acusação de receber dinheiro de origem ilícita da Venezuela e da Odebrecht para financiar as campanhas de 2006 e 2011. Humala e Nadine são acusados de receber US$ 3 milhões em contribuições ilegais da construtora que foi uma das protagonistas da Lava-Jato no Brasil e precisou até mudar de nome.
Lula pode dizer que o casal peruano foi vítima de um julgamento injusto ou viciado. Se isso lhe soa familiar, é porque esse argumento é o mesmo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda não foi julgado, mas tenta desqualificar a acusação da Procuradoria-Geral da República com a tese de que é inocente.
Quando Bolsonaro passou dois dias refugiado na embaixada da Hungria em Brasília, o PT fez um escarcéu, alegando que ele pretendia fugir do Brasil com medo de ser preso. E se Bolsonaro for condenado e se homiziar na embaixada dos Estados Unidos, da Argentina ou de qualquer país "amigo", dizendo-se perseguido político, como reagirá o governo brasileiro?
Às voltas com a queda de popularidade e tentando melhorar sua imagem aos olhos dos eleitores brasileiros, Lula não se ajuda. Ao contrário. Dá aos adversários um pacote pronto para ser criticado, não fundamenta a decisão e ainda deixa a porta aberta para os acusados pela tentativa de golpe no Brasil saírem do país pela porta da frente de uma embaixada, com salvo-conduto.
Fonte: Zero Hora/Rosane de Oliveira em 17/04/2025